A gente quebra e não sabe o porquê. Eu quebrei, estou quebrado, de coração partido e de nariz inchado. E foi tudo tão repentino, como se uma guilhotina tivesse me decepado um braço ou uma perna. Era dia, agora é noite.
Essa parte que me falta hoje anda por aí. Essa parte hoje me faz falta e meu corpo reclama sua presença, como uma criança que clama por sua mãe, como eu um dia o fiz. E reenceno na minha cabeça o momento em que minha mãe, mesmo longe, me pergunta se está tudo bem afora a universidade. Uma parte de mim não estava em mim, mas respondi “está sim, mãe”.
Uma parte que se esvaiu de mim aos poucos e não percebi, uma parte que quero muito bem, mas que deixei ir porque um pensador contemporâneo já dizia que quem ama não prende. Não faria como nos pet shops, não manteria essa parte de mim em uma vitrine pelo simples fato de não querer que ela fosse. Eu abri a gaiola e o pássaro voou.
Mas não foi muito longe, essa parte de mim. Ainda mora perto e quer estar junto. Mas dói. Dói ver uma parte de si indo. Dói ver uma parte de si indo. Dói ver uma parte de sindo. Dói ver uma parte de mim ir. Hoje sou lágrima. Hoje sou tristeza, mas também sou alegria. Hoje sou grato. Hoje sou dúvida. Hoje sou menino, de novo.
Não quero mais ser o homem que querem que eu seja. Quero ser menino. Quero ser aquele menino que se rala e a mãe o ampara. Quero ser o menino que é acariciado pelas mãos da mãe quando adoece. Quero colo, quero cafuné, quero abraços, quero que o vazio que ficou em mim seja preenchido por mim mesmo.
E que no futuro meu corpo aprenda que partes de mim vão querer ir. E que por mais que doa, essa partida, ele vai ficar bem. Eu vou ficar bem. Talvez demore alguns dias ou um mês. Talvez um ano seja necessário. Ou quem sabe um dia uma parte se vá e não doa. Ou doa menos. E não seja como uma guilhotina, que leva uma parte de mim quando eu menos espero e me deixa sangrando e desamparado.
Hoje choro. Estou quebrado. Assumo. Sou imensidão mergulhado no vazio de meus pensamentos. Penso nessa parte de mim, penso no que vivi, no que vi e no que sou. Se me perguntarem o que aconteceu, direi o quão bonito minha vida com essa parte de mim foi. E lamentarei eternamente sua partida.